terça-feira, 16 de setembro de 2008

O público não perdoa

O dia parece encaminhar-se para aquele momento. Nada do que aconteceu antes, nenhum feito histórico ou ato de bondade serão considerados como atenuantes no julgamento popular. As pernas bambeiam, o rosto enrubresce, a temperatura sobe repentinamente e suas entranhas parecem duelar entre si. Todos os olhares o fuzilam e as mentes parecem gritar julgamentos precipitados enquanto você, pobre coitado, busca, mesmo sob imensa pressão, um subterfúgio para desviar a atenção alheia. Infelizmente, você não consegue fazer o tempo voltar alguns segundos, ou tranportar seu corpo para longe daquele recinto ou até mesmo apagar os últimos instantes da memória de todos.
Nada disso, entretanto, parece fazer algum sentido quando se retoma a razão e os seus órgãos sensoriais voltam a funcionar. Pelo resto da sua vida você lembrará, com um embrulho no estômago, do maldito momento em que afirmou com confiança:
- E o elefante caiu na lama!
E, impiedosamente, ninguém riu.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ditadura democrática

Duas notícias que envolvem o governador do estado do Paraná, Roberto Requião, chamaram a minha atenção nesses últimos dois dias.

A primeira é a respeito da suspensão do decreto que nomeava o irmão do governador como Secretário de Estado dos Transportes. Após a Súmula vinculante número 13 do Superior Tribunal Federal declarar ilegal o nepotismo, nosso querido governador insiste em tentar empregar parentes em cargos públicos.
Graças a uma decisão judicial, a nomeação foi barrada.

A segunda, um pouco mais especulativa, foi veiculada no blog do jornalista esportivo Paulo Vinícius Coelho (http://blogs.espn.com.br/pvc/). Segundo o jornalista, a cidade de Curitiba está praticamente fora da disputa para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, maior evento esportivo mundial. A razão apontada pelo blog é de que o presidente da CBF (e também aspirante a ditador vitalício) Ricardo Teixeira não "se dá" muito bem com Roberto Requião.

Meus pais, tios, avós e outros milhões de brasileiros lutaram, por mais de 20 anos, por um país democrático. Lutaram por um país que pudesse ser administrado a partir de decisões democráticas. Lutaram para a reativação de instituições que fazem parte dos pilares de uma sociedade democrática, como o Senado, a Câmara de deputados, Assembléia Legislativa, Supremo Tribunal Federal.
Dentre esses "lutadores", encontrava-se um advogado formado pela Universidade Federal do Paraná e também jornalista, formado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Um militante idealista e sonhador do então MDB (Movimento Democrático Brasileiro), o Sr. Roberto Requião de Mello e Silva.
Atualmente, é o único governador eleito três vezes pelo voto popular no estado do Paraná. Já foi Senador e Prefeito de Curitiba, também por meio de eleições democráticas.
Mas parece ter esquecido suas raízes, para a tristeza daqueles que o seguiram tão fielmente durante anos.

Medidas pessoais, impulsionadas por emoções de rancor, ódio e um sentimento de poder que não possui são as atitudes tomadas por esse ex-militante democrático. Liberar mais verbas do governo estadual para cidades cujos prefeitos são seus amiguinhos, prejudicar de maneira direta a administração municipal nas cidades onde não haja essa amizade com o prefeito (Curitiba e Paranaguá, por exemplo), nomear parentes para cargos públicos no mesmo dia em que o STF considerou o nepotismo inconstitucional, não abrir mão de um orgulho ridículo que vale infinitamente menos do que uma administração voltada para o bem-estar da população, tomar conta de um canal de tv para fazer propaganda pessoal.
Governador, retome seu viés democrático e governe para o povo que seguiu no meloso "me chama que eu vou". Não lembre de seus tempos de protesto apenas para apresentar uma receita de ovo frito na "Escolinha de Governo", mas também nos momentos em que puder abrir mão de desavenças pessoais para colocar o estado no rumo certo.

Caso isso não seja feito, o Sr. será, para mim, "aquele garoto que queria mudar o mundo/agora assiste a tudo em cima do muro".

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Reunião aponta para um consenso

Antecipando o texto do Cacos de Papel....


Incertezas diminuem e mudança de campus parece iminente.


Na manhã dessa quarta-feira, dia 10 de setembro, ocorreu na sala de reuniões do DECOM uma reunião para apresentação do projeto de uma possível mudança de campus do curso de Comunicação Social para o prédio da antiga Rede Ferroviária, localizado no bairro Rebouças. Estiveram presentes os professores do Departamento de Comunicação Social; as professoras Maria Tarcisa da Silva Bega e Norma Ferrarini, diretora e vice, respectivamente, do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes; a professora Maria Luiza Marques Dias, arquiteta e Coordenadora de Planejamento Institucional da Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças; e alguns representantes discentes.
No encontro, foi apresentado o projeto do Plano Diretor da Universidade e discutida a possibilidade de mudança do curso de Comunicação Social. Confira os principais pontos discutidos.

O Projeto

A principal idéia da Universidade é “consertar” todas as pendências da instituição no que diz respeito à localização de alguns cursos. Entrariam no projeto os cursos de Artes (que se encontra num terreno pertencente ao INSS, localizado no Batel), Design (precariamente instalado no prédio D. Pedro II, na Reitoria) e o curso de Comunicação Social, que também se encontra num espaço pertencente ao INSS.
“A qualquer momento, numa mudança de governo, por exemplo, mudam-se as diretrizes com relação ao INSS e o órgão pode pedir um ano para a desocupação dos terrenos. Então teremos ainda mais dificuldade”, afirmou a professora Maria Luiza, referindo-se aos cursos de Comunicação Social e Artes.
Segundo a professora Maria Tarcisa, diretora do SCHLA, a verba disponibilizada para a obra por meio do programa REUNI é suficiente para “arrumar” o setor, favorecendo a interação entre os alunos de humanas.
Além disso, as novas vagas abertas para o vestibular 2009 obrigam a Universidade a se preparar para receber mais alunos até março do ano que vem. Todos os outros cursos de outros setores já se prepararam pra fazê-lo, apenas o SCHLA continua com futuro incerto.
O projeto apresentado prevê a mudança desses três cursos já citados anteriormente e também de quase todas as Pró-Reitorias, liberando muitos espaços tanto no prédio da Reitoria, quanto no edifício histórico da Praça Santos Andrade.
Para a professora Maria Luiza, o fato de os três cursos utilizarem laboratórios em comum facilitaria muito o processo de ocupação do prédio, que conta com uma área construída de 13.500 metros quadrados.
Outras possibilidades previstas no projeto dizem respeito à construção de um novo R.U., para não superlotar o restaurante da Reitoria, e o Projeto Rebouças, da prefeitura de Curitiba, que pretende revitalizar a área transformando-a em uma cidade universitária, aproveitando as novas possibilidades de interação com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

A Favor da Mudança

Além do fato do terreno pertencer ao INSS, outro grande argumento apresentado pelo Plano Diretor da UFPR e endossado por professores e alunos de Comunicação é o isolamento do campus com relação ao resto da Universidade. “A convivência com sempre as mesmas pessoas, no mesmo ambiente, limita demais a vida acadêmica dos alunos que se encontram isolados”, defendeu a professora Maria Tarcisa.
Também foi defendida a possibilidade de crescimento estrutural do curso, podendo contar com novos e melhores laboratórios e equipamentos graças à verba disponibilizada para as obras.

Contra a Mudança

A grande maioria dos professores do Departamento de Comunicação não se mostrou muito favorável à mudança. “Tenho a sensação de estar tendo um déja vu” ironizou o professor Itanel Bastos de Quadros, referindo-se às duas mudanças anteriores do curso, primeiro para o prédio da Santos Andrade e posteriormente para o campus Juvevê. Nas duas vezes, o DECOM teve muitas dificuldades de se estabelecer.
O argumento foi rebatido pela professora Maria Luiza com a inserção de um fato novo: “Dessa vez, ao contrário das anteriores, temos muito dinheiro à disposição, o que facilita demais as coisas”. O SCHLA conta com uma verba de 4 milhões de reais, enquanto o prédio do Rebouças será reformado com uma verba de 9 milhões.
O professor Mário Messagi Júnior, por sua vez, afirmou não concordar com o desperdício de dinheiro gasto nas reformas no campus atual. “Mais de um milhão de reais foram depositados aqui e serão jogados fora”, afirma. Uma contraproposta apresentada por ele foi a de trazer os outros dois cursos (Artes e Design) para este campus. Mas também foi descartada pela falta de possibilidades de adquirir o terreno do Juvevê junto ao INSS. “A verba não está disponível para o Reitor utilizá-la como bem entender. Os 9 milhões de reais são destinados à reforma do prédio no Rebouças” rebateu a professora Maria Luiza.
O CACOS também se manifestou por meio de seus representantes apresentando os argumentos da falta de segurança na região e desconfiando das promessas de uma melhor estrutura para o curso, o que dificultaria a aceitação da mudança por parte dos estudantes. A promessa do Plano Diretor é de um reforço na segurança do local por meio de projeto da prefeitura para a revitalização do bairro.
A outra reivindicação de Centro Acadêmico diz respeito ao espaço físico do CACOS, que seria perdido com a mudança.

TV UFPR, Museu e Imprensa

As outras instituições presentes nesse mesmo campus ficariam também com seu futuro indefinido. Segundo o bolsista sênior da Imprensa Universitária, Adalberto José da Silva, a Imprensa “já está para mudar para o centro politécnico há uns dez, quinze anos”. Talvez a desocupação do terreno do Juvevê seja a deixa para se concretizar a mudança.
O Museu de Etnologia e Arqueologia já passou por situação semelhante quando recebeu o prazo de um ano para desocupar completamente a antiga sede em Paranaguá, que também não era posse da Universidade. Após muito esforço e muitos gastos com o transporte de todo o acervo do Museu para Curitiba, a instituição terá de abandonar a atual sede quando a mudança for concretizada.
A TV Universitária, a Agência de Relações Públicas, a Fábrica de Comunicação e a redação do Jornal Comunicação passarão pelo mesmo problema.

Diálogo

Para a professora Maria Tarcisa, o DECOM não mais deveria discutir se deve ou não mudar de campus, mas sim apresentar as exigências estruturais do curso para a análise do Plano Diretor. Para ela, a situação se complicaria ainda mais caso o curso permaneça nessa mesma área, pois outros cursos ocuparão o espaço vago no futuro campus e Comunicação Social poderia ficar sem rumo definido.
Mas o diálogo entre Departamento, Setor e Plano Diretor continua aberto e a mudança só ocorrerá quando houver um consenso entre as partes.