quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Um sorriso sincero

Minutos, segundos, instantes. No momento em que ocorrem, estas palavras são a pura definição de alguns acontecimentos, aos quais você só passa a dar valor depois que se tornam passado. Pode ser pela maturidade, ou pelo simples fato de se poder refletir a respeito apenas alguns instantes depois, quando se examina melhor o que aconteceu olhando para os resquícios de memória ainda frescos.
Um momento assim ocorreu comigo, ainda em meus tempos de cursinho, quando o conteúdo do vestibular é a única coisa que importa. Quando todos pensamos estar prontos para a vida adulta, mas estamos apenas amadurecendo.
Em mais uma de minhas viagens cursinho-casa, realizada a pé, estava eu lamentando o fato de não ter passado no maldito vestibular logo na primeira tentativa. Reclamando mentalmente do sol forte, que tornava o deslocamento ainda mais cansativo. Xingando baixo porque a barra das minhas calças insistiam em entrar embaixo do sapato.
Já na rua de casa, quando minha mente pensava no hall refrescante do prédio e rezava para que o elevador estivesse me esperando (para que eu não tivesse o angustiante trabalho de esperar por ele ou subir de escada), um objeto, que meus olhos não identificaram de primeira, cruzou a minha frente, rolando pela calçada em direção à rua.
Ao perceber o que era, eu - quase automaticamente - abaixei para juntar. Era uma garrafa de óleo, daquelas "pet", vazia. Juntei a garrafa e me virei para colocá-la no latão de lixo. Para minha surpresa (ou talvez até já esperasse por isso), um garoto, daqueles com idade para estar na escola ou em casa brincando, largou seus afazeres junto aos sacos de lixo e estendeu a mão para receber a garrafa da minha. O fato em si não me surpreende tanto, pois conheço (e abomino) a dura realidade da desigualdade social. O que não sai da minha mente até hoje é o sorriso que recebi em troca de um gesto tão banal.
Um sorriso sincero, animado e ingênuo. Atrevo-me a dizer que foi o sorriso mais convincentemente sincero que já recebi em toda a minha vida.
Não sei se posso descrever fielmente, com palavras, o sentimento que tenho ao lembrar desse acontecimento. Sinto vergonha das minhas reclamações, nojo do meu egoísmo e indignação pelas circunstâncias. O menino que marcou para sempre minha vida poderia estar sorrindo por receber um presente, um livro, um prato de comida, um abraço. Porém, o gesto que eu considerei banal foi o suficiente para extrair aquele sorriso.
Só lamento poder enterder a importância disso somente agora, quando não posso mais encontra-lo e agradecer pela injeção de maturidade.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Os Coadjuvantes do Sistema

No sistema político brasileiro, a cada quatro anos os municípios elegem seus prefeitos e os integrantes de suas Câmaras Municipais. Normalmente, as candidaturas para a prefeitura são mais visadas e geram muito mais discussão na esfera pública. O desempenho do prefeito, os argumentos da oposição e a ligação dos candidatos com os governos estadual e federal são constantemente colocados em pauta na agenda pública.
Mas, e as eleições para vereador? Seriam menos importantes? Por que a composição da Câmara Municipal para os quatro anos seguintes é colocada em segundo plano? O cientista social e professor da Universidade Federal do Paraná Ricardo Costa de Oliveira, em entrevista ao Comunicação, explica melhor a função dos vereadores - papel que é pouco conhecido pelos cidadãos - e a falta de prioridades da Câmara Municipal que, segundo o professor, só se ocupa com “ atividades de utilidade pública e de homenagens”.

Comunicação: Muitas pessoas ainda não sabem qual é o papel dos vereadores e também não têm o conhecimento de como eles se elegem. O vereador seria uma figura secundária no contexto político adotado pelo país?

Ricardo Costa de Oliveira: Na maneira como o sistema político está organizado, o vereador tem uma função subalterna, uma vez que ele está submetido às intenções políticas dos executivos municipais. E as câmaras municipais passaram a ter um papel de coadjuvante no chamado ‘pacto homologatório’, ou seja, as principais políticas que vêm dos prefeitos são aprovadas pelos vereadores sem maiores questionamentos. E as câmaras se dedicam, basicamente, às atividades de utilidade pública e de homenagens. Com isso, há um desvirtuamento do papel do vereador, que deve ser muito mais importante.
O vereador deve, em primeiro lugar, fiscalizar o prefeito e os seus secretários municipais, e votar os orçamentos municipais de maneira mais completa (em relação ao que é feito hoje). Com isso, o vereador passa a formular um projeto de planejamento urbano. Geralmente, eles não fazem isso, pois o pacote vem completo e quase fechado e eles apenas homologam.
Os vereadores também devem votar políticas públicas e legislações, para os municípios. Além de ficarem na utilidade pública e nas homenagens, eles se dedicam a relações baseadas no clientelismo e no assistencialismo. Ou seja, têm gabinetes de atendimento para a população que extrapolam as funções do vereador. Esses gabinetes oferecem cadeiras de rodas, remédios, vantagens, que são importantes pra a população, mas que não correspondem ao papel do vereador.

Comunicação: E o fato de as eleições para vereador serem proporcionais, isso privilegia demais os partidos e prejudica os candidatos?

Oliveira: Depende do caso. Muitas vezes os vereadores procuram vantagens. Em Curitiba, a Câmara Municipal votou um grande reajuste salarial para o prefeito, para o vice, para o presidente da Câmara e para eles mesmos, (que passa a valer) na próxima legislatura, sendo que a maioria se reelege. O prefeito Beto Richa vetou o aumento para prefeito e vice-prefeito porque era ano eleitoral, mas houve um grande aumento, acima das correções, para o presidente da Câmara Municipal, que, com isso, tem muito poder e muita influência. Eles mesmos votaram seu próprio reajuste, o que também desagradou à opinião pública.
De acordo com a ONG Transparência Brasil, o custo per capita por vereador é de cerca de dois milhões de reais ao ano. É muito dinheiro para o que eles fazem. Então, é preciso redimensionar esses gastos, uma vez que esse dinheiro poderia ser mais bem empregado nas áreas carentes da população, nas periferias. Outro dia, eu estava vendo um catador de lixo com sua família no meio do frio e da chuva. O que ele está ganhando da prefeitura ou da Câmara Municipal? O custo de dois milhões por ano, para que os vereadores votem utilidade pública e homenagens, é muito alto. Eles poderiam fazer o que fazem com muito menos dinheiro.
E além do mais, eles tendem o tempo todo a aumentar as condições de trabalho, como mais verbas e condições para os gabinetes. Tudo isso para beneficiar a reeleição, de modo que vereador se torna quase uma profissão; eles passam a ser políticos profissionais. É sempre importante na democracia que haja renovação, rotatividade.
E a população também não conhece os vereadores. Foi feita uma pesquisa pela Paraná Pesquisas que mostrou que cerca de 70% dos eleitores não conseguem apontar o nome de nenhum vereador de sua cidade. A grande maioria do eleitorado não se lembra em quem votou. E mais: quase 90% do eleitorado não conseguiram identificar nenhum projeto votado na Câmara Municipal, o que mostra o distanciamento e a falta de conhecimento sobre a Câmara dos Vereadores.

Comunicação: Por que existe essa suposta falta de interesse pelas atividades do vereador? A Câmara está distante da sociedade?

Oliveira: As pesquisas mostraram que a cidade desconhece o nome dos vereadores e não conhece os projetos votados, pois muitas vezes são projetos afastados dos interesses da grande maioria. Tirando a utilidade pública e as homenagens, nós vemos que a Câmara discute pouco. Os vereadores representam bairros ou áreas da cidade, e isso é importante, pois eles passam a ser conhecidos e a ter uma relação mais direta com os eleitores. Já outros vereadores constroem uma estrutura fisiológica de clientelismo, e são conhecidos por poucos grupos; é uma relação quase que privada com alguns eleitores. Nós temos grandes cidades, como Curitiba, com eleitorado muito grande, superior a um milhão de habitantes, e a gente observa que os vereadores não conseguem se relacionar com a grande maioria da população.
E é importante o papel do vereador como promotor ou formulador de políticas públicas e sociais. Ou seja, eles deveriam trabalhar na área do transporte público, na questão viária e na questão da saúde, mas o grande objetivo deles é tentar se reeleger.

Comunicação: E é mais correto que os vereadores mantenham esse vínculo com o bairro ou que legislem pela cidade inteira?

Oliveira: Alguns mantêm um vínculo tradicional, são considerados vereadores de bairros. Outros já têm a cidade como um todo; e há os que migram, ou seja, investem dinheiro na campanha em um bairro e a votação vai para outro lado da cidade.
Há também a questão do abuso do poder econômico. Alguns candidatos com muito dinheiro e que utilizam grandes volumes de investimentos na campanha têm mais benefícios e grandes vantagens. A Justiça Eleitoral deve estar atenta de modo a tentar coibir ou, pelo menos, diminuir a influência do poder econômico (durante a campanha). As denúncias de abuso de poder econômico sempre têm de ser investigadas pela sociedade.

Comunicação: Existe uma tendência de que esse panorama (a da eleição dos candidatos que mais investem em campanha) se altere para os próximos anos? Pois, nesse ano, tivemos alguns candidatos eleitos que não eram tão conhecidos assim, como o candidato Professor Galdino, do Partido Verde.

Oliveira: Exatamente. Mas é uma minoria. O caso do Professor Galdino foi interessante porque ele já vinha de duas eleições. E ele fez um trabalho braçal intensivo na área central, principalmente no calçadão da Rua XV, conseguindo, assim, se destacar. Sendo um professor, sem muito dinheiro, ele passou a compor a galeria de personalidades folclóricas do centro de Curitiba, ao lado do “Oil Man” e de outras figuras. Então, é claro, ele ficou conhecido, apresentou sua proposta e foi eleito. Mas a gente observa que a renovação é limitada.
Nós tivemos vinte vereadores reeleitos, dentre os 38, e 18 eleitos, e muitos (eleitos pela primeira vez) têm vínculos com poderes tradicionais. É o caso, por exemplo, do Algaci Túlio, que já tinha sido vereador, deputado e até mesmo prefeito em exercício, quando foi vice do Cássio Taniguchi. Não se pode dizer que tenha sido uma renovação. Ou então, as bancadas de filhos de políticos, tradicional elemento que conecta relações de parentesco e poder político, um dos traços mais marcantes da política paranaense, muito centrada no familismo. Também entrou na Câmara Municipal Omar Sabag Filho, que é um engenheiro e filho de um outro ex-prefeito de Curitiba, ou o Juliano Borgeti, do PP, irmão da deputada estadual Cida Borgeti que, por sua vez, é casada com Ricardo Barros, deputado federal que é irmão do prefeito de Maringá Silvio Barros, também os dois filhos de ex-prefeito.
Há o Jhonny Stica, do PT, que é um arquiteto com boas idéias, mas filho de Natálio Stica, que foi vereador, deputado e que, atualmente, está trabalhando na Sanepar. Também temos o caso da Renata Bueno, filha do líder do PPS no Paraná, Rubens Bueno, ex-deputado e muitas vezes candidato. Então, quando não é o próprio nome, você vê a reprodução através de seus parentes. Essa renovação, portanto, deve ser vista com muita cautela, porque significa mais dos mesmos.

Comunicação: O candidato eleito com o menor número de votos nas eleições desse ano foi Dirceu Moreira, do PSL, com 2.593 votos. 41 candidatos obtiveram mais votos do que ele e não foram eleitos.

Oliveira: Exatamente, o Dirceu Moreira entrou pela sua coligação. O candidato que teve a maior votação e não se elegeu foi o Sandoval, do PTB, com 7.180 votos. O que aconteceu é que o candidato a prefeito pelo PTB Fábio Camargo foi mal nas eleições e puxou pra baixo a votação dos vereadores do PTB. Mas é essa a maneira pela qual o sistema está estruturado. Muitos candidatos tiveram grandes votações e não entraram em função da legenda e das coligações. O PTB não elegeu ninguém. E o candidato mais votado foi o (Roberto) Accioly, acusado pela imprensa de estar envolvido em um assassinato, o que também abriu um grande debate na sociedade, já que isso não tinha sido comentado durante a campanha.
Nós vemos que é preciso conhecer melhor o perfil dos candidatos e ter informações antes que eles sejam eleitos. Há casos de políticos como o Belinati, em Londrina, um típico político ficha suja que continua sempre com uma grande votação na cidade. Deve-se mudar a cultura política do eleitor de modo a qualificar ainda mais o perfil de sua formação.
Ainda nessa legislatura, de 2005 a 2008, houve nepotismo. Agora, em função da decisão do STF, e também da vergonha que está se tornando a prática, a própria Câmara Municipal demitiu os nepotes ao longo da legislatura. Devido à pressão popular, da imprensa e do Ministério Público hoje já não há nepotismo na Câmara Municipal. Isso mostra que o eleitor pode ficar otimista, pois a sociedade civil organizada muda a cultura política e melhora as instituições.

Comunicação: Em alguns países, como Portugal, o vereador exerce função executiva. Nem em todos os países, portanto, ele exerce função legislativa. Qual a diferença entre essas duas atribuições?

Oliveira: É que no caso de Portugal, o presidente da Câmara exerce a função do executivo. Aqui no Brasil nós temos uma tradição da hipertrofia e da hiperatividade do Executivo. Ele é o principal poder e o Legislativo é o poder subalterno. Tudo o que venha do prefeito geralmente é aprovado nas Câmaras Municipais. É o que foi chamado de “Pacto Homologatório”. A Câmara aprova tudo e, por sua vez, o prefeito oferece boas condições de remuneração para os vereadores. As Câmaras, como eu já havia dito, recebem muito recurso pelo que elas fazem. Esses recursos poderiam ser investidos na área social, de educação, de saúde, transporte e moradia, e não nos vereadores. Temos sempre que tentar limitar essa condição, para que os vereadores possam fiscalizar, criticar, deliberar e ter uma relação respeitosa com o Executivo, que é o que não acontece no Brasil.

Comunicação: É importante para o candidato ter experiência no legislativo antes de concorrer a um cargo no executivo?

Oliveira: Não necessariamente. Nós podemos ter muitos dirigentes que têm um grande perfil administrativo no Executivo e que nunca passaram pelo Legislativo. O Jaime Lerner, por exemplo, foi prefeito de Curitiba várias vezes, além de governador do estado por duas vezes, e nunca teve nenhum cargo no Legislativo. Já outros políticos, como Roberto Requião, Álvaro Dias e Beto Richa, já passaram pelos dois poderes. Então, depende muito do perfil de cada personagem.

Comunicação: Durante o horário eleitoral gratuito, o candidato a vereador possui um espaço ínfimo para a apresentação de suas propostas. Isso não prejudica os candidatos? Por que o sistema de propaganda foi desenvolvido dessa forma? E a culpa é da legislação eleitoral ou dos próprios partidos?

Oliveira: Eu acho que a culpa é de todos, porque não é possível conhecer bem todo mundo devido ao grande número de candidatos. Nós tivemos quase 800 candidatos a vereador em Curitiba, para 38 vagas. É uma avalanche de informações, de rostos, de idéias, às vezes uns querendo aparecer mais do que os outros, e isso não permite um conhecimento das propostas, dos planos de governo ou do perfil. É a sociedade do espetáculo. Todos querem aparecer. Seria interessante um voto mais ‘distritalizado’. Você, no seu bairro, vota nos candidatos que representariam o seu bairro. Você teria mais conhecimento, mais proximidade e uma relação mais direta do que candidatos que saem coletando votos num município de mais de um milhão de eleitores. Há uma subrepresentação de vários bairros e de vários conjuntos eleitorais em Curitiba.

Comunicação: Muitas vezes o vereador promete que irá fazer isso ou aquilo caso seja eleito, mas algumas promessas não estão além da alçada do vereador, já que dependem da maioria da Câmara para serem aprovadas? E o eleitor acredita nessas propostas?

Oliveira: Muitos prometem as coisas mais absurdas e abstratas e que não dependem do Poder Legislativo. É preciso que o candidato conheça o papel do vereador, para não ser um vereador clientelista, mas um vereador que contribua para o planejamento urbano e o desenvolvimento social e cultural da cidade. Que investigue e fiscalize sempre o executivo, cobrando transparência.
Ainda hoje, não há na Internet o nome de todos os funcionários da Câmara Municipal, nem da Assembléia Legislativa. A transparência é muito importante. Saber quais são os assessores nos gabinetes dos vereadores e dos deputados estaduais. Paraná e Curitiba estão atrasados nesse quesito. É importante também o vereador trabalhar na área de educação, saúde, transporte, meio ambiente. A cidade de Curitiba possui um meio ambiente muito deteriorado. Na área cultural já tivemos elaboração de leis muito interessantes. O papel do vereador deve ser muito dinâmico e bem formado, não pode ficar apenas em utilidade pública e homenagens que não tenham relevância alguma para a cidade.


Matéria veiculada no site do Jornal Comunicação On-line no dia 27/10/2008.
Link para a reportagem: http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/5254

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O público não perdoa

O dia parece encaminhar-se para aquele momento. Nada do que aconteceu antes, nenhum feito histórico ou ato de bondade serão considerados como atenuantes no julgamento popular. As pernas bambeiam, o rosto enrubresce, a temperatura sobe repentinamente e suas entranhas parecem duelar entre si. Todos os olhares o fuzilam e as mentes parecem gritar julgamentos precipitados enquanto você, pobre coitado, busca, mesmo sob imensa pressão, um subterfúgio para desviar a atenção alheia. Infelizmente, você não consegue fazer o tempo voltar alguns segundos, ou tranportar seu corpo para longe daquele recinto ou até mesmo apagar os últimos instantes da memória de todos.
Nada disso, entretanto, parece fazer algum sentido quando se retoma a razão e os seus órgãos sensoriais voltam a funcionar. Pelo resto da sua vida você lembrará, com um embrulho no estômago, do maldito momento em que afirmou com confiança:
- E o elefante caiu na lama!
E, impiedosamente, ninguém riu.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ditadura democrática

Duas notícias que envolvem o governador do estado do Paraná, Roberto Requião, chamaram a minha atenção nesses últimos dois dias.

A primeira é a respeito da suspensão do decreto que nomeava o irmão do governador como Secretário de Estado dos Transportes. Após a Súmula vinculante número 13 do Superior Tribunal Federal declarar ilegal o nepotismo, nosso querido governador insiste em tentar empregar parentes em cargos públicos.
Graças a uma decisão judicial, a nomeação foi barrada.

A segunda, um pouco mais especulativa, foi veiculada no blog do jornalista esportivo Paulo Vinícius Coelho (http://blogs.espn.com.br/pvc/). Segundo o jornalista, a cidade de Curitiba está praticamente fora da disputa para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, maior evento esportivo mundial. A razão apontada pelo blog é de que o presidente da CBF (e também aspirante a ditador vitalício) Ricardo Teixeira não "se dá" muito bem com Roberto Requião.

Meus pais, tios, avós e outros milhões de brasileiros lutaram, por mais de 20 anos, por um país democrático. Lutaram por um país que pudesse ser administrado a partir de decisões democráticas. Lutaram para a reativação de instituições que fazem parte dos pilares de uma sociedade democrática, como o Senado, a Câmara de deputados, Assembléia Legislativa, Supremo Tribunal Federal.
Dentre esses "lutadores", encontrava-se um advogado formado pela Universidade Federal do Paraná e também jornalista, formado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Um militante idealista e sonhador do então MDB (Movimento Democrático Brasileiro), o Sr. Roberto Requião de Mello e Silva.
Atualmente, é o único governador eleito três vezes pelo voto popular no estado do Paraná. Já foi Senador e Prefeito de Curitiba, também por meio de eleições democráticas.
Mas parece ter esquecido suas raízes, para a tristeza daqueles que o seguiram tão fielmente durante anos.

Medidas pessoais, impulsionadas por emoções de rancor, ódio e um sentimento de poder que não possui são as atitudes tomadas por esse ex-militante democrático. Liberar mais verbas do governo estadual para cidades cujos prefeitos são seus amiguinhos, prejudicar de maneira direta a administração municipal nas cidades onde não haja essa amizade com o prefeito (Curitiba e Paranaguá, por exemplo), nomear parentes para cargos públicos no mesmo dia em que o STF considerou o nepotismo inconstitucional, não abrir mão de um orgulho ridículo que vale infinitamente menos do que uma administração voltada para o bem-estar da população, tomar conta de um canal de tv para fazer propaganda pessoal.
Governador, retome seu viés democrático e governe para o povo que seguiu no meloso "me chama que eu vou". Não lembre de seus tempos de protesto apenas para apresentar uma receita de ovo frito na "Escolinha de Governo", mas também nos momentos em que puder abrir mão de desavenças pessoais para colocar o estado no rumo certo.

Caso isso não seja feito, o Sr. será, para mim, "aquele garoto que queria mudar o mundo/agora assiste a tudo em cima do muro".

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Reunião aponta para um consenso

Antecipando o texto do Cacos de Papel....


Incertezas diminuem e mudança de campus parece iminente.


Na manhã dessa quarta-feira, dia 10 de setembro, ocorreu na sala de reuniões do DECOM uma reunião para apresentação do projeto de uma possível mudança de campus do curso de Comunicação Social para o prédio da antiga Rede Ferroviária, localizado no bairro Rebouças. Estiveram presentes os professores do Departamento de Comunicação Social; as professoras Maria Tarcisa da Silva Bega e Norma Ferrarini, diretora e vice, respectivamente, do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes; a professora Maria Luiza Marques Dias, arquiteta e Coordenadora de Planejamento Institucional da Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças; e alguns representantes discentes.
No encontro, foi apresentado o projeto do Plano Diretor da Universidade e discutida a possibilidade de mudança do curso de Comunicação Social. Confira os principais pontos discutidos.

O Projeto

A principal idéia da Universidade é “consertar” todas as pendências da instituição no que diz respeito à localização de alguns cursos. Entrariam no projeto os cursos de Artes (que se encontra num terreno pertencente ao INSS, localizado no Batel), Design (precariamente instalado no prédio D. Pedro II, na Reitoria) e o curso de Comunicação Social, que também se encontra num espaço pertencente ao INSS.
“A qualquer momento, numa mudança de governo, por exemplo, mudam-se as diretrizes com relação ao INSS e o órgão pode pedir um ano para a desocupação dos terrenos. Então teremos ainda mais dificuldade”, afirmou a professora Maria Luiza, referindo-se aos cursos de Comunicação Social e Artes.
Segundo a professora Maria Tarcisa, diretora do SCHLA, a verba disponibilizada para a obra por meio do programa REUNI é suficiente para “arrumar” o setor, favorecendo a interação entre os alunos de humanas.
Além disso, as novas vagas abertas para o vestibular 2009 obrigam a Universidade a se preparar para receber mais alunos até março do ano que vem. Todos os outros cursos de outros setores já se prepararam pra fazê-lo, apenas o SCHLA continua com futuro incerto.
O projeto apresentado prevê a mudança desses três cursos já citados anteriormente e também de quase todas as Pró-Reitorias, liberando muitos espaços tanto no prédio da Reitoria, quanto no edifício histórico da Praça Santos Andrade.
Para a professora Maria Luiza, o fato de os três cursos utilizarem laboratórios em comum facilitaria muito o processo de ocupação do prédio, que conta com uma área construída de 13.500 metros quadrados.
Outras possibilidades previstas no projeto dizem respeito à construção de um novo R.U., para não superlotar o restaurante da Reitoria, e o Projeto Rebouças, da prefeitura de Curitiba, que pretende revitalizar a área transformando-a em uma cidade universitária, aproveitando as novas possibilidades de interação com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

A Favor da Mudança

Além do fato do terreno pertencer ao INSS, outro grande argumento apresentado pelo Plano Diretor da UFPR e endossado por professores e alunos de Comunicação é o isolamento do campus com relação ao resto da Universidade. “A convivência com sempre as mesmas pessoas, no mesmo ambiente, limita demais a vida acadêmica dos alunos que se encontram isolados”, defendeu a professora Maria Tarcisa.
Também foi defendida a possibilidade de crescimento estrutural do curso, podendo contar com novos e melhores laboratórios e equipamentos graças à verba disponibilizada para as obras.

Contra a Mudança

A grande maioria dos professores do Departamento de Comunicação não se mostrou muito favorável à mudança. “Tenho a sensação de estar tendo um déja vu” ironizou o professor Itanel Bastos de Quadros, referindo-se às duas mudanças anteriores do curso, primeiro para o prédio da Santos Andrade e posteriormente para o campus Juvevê. Nas duas vezes, o DECOM teve muitas dificuldades de se estabelecer.
O argumento foi rebatido pela professora Maria Luiza com a inserção de um fato novo: “Dessa vez, ao contrário das anteriores, temos muito dinheiro à disposição, o que facilita demais as coisas”. O SCHLA conta com uma verba de 4 milhões de reais, enquanto o prédio do Rebouças será reformado com uma verba de 9 milhões.
O professor Mário Messagi Júnior, por sua vez, afirmou não concordar com o desperdício de dinheiro gasto nas reformas no campus atual. “Mais de um milhão de reais foram depositados aqui e serão jogados fora”, afirma. Uma contraproposta apresentada por ele foi a de trazer os outros dois cursos (Artes e Design) para este campus. Mas também foi descartada pela falta de possibilidades de adquirir o terreno do Juvevê junto ao INSS. “A verba não está disponível para o Reitor utilizá-la como bem entender. Os 9 milhões de reais são destinados à reforma do prédio no Rebouças” rebateu a professora Maria Luiza.
O CACOS também se manifestou por meio de seus representantes apresentando os argumentos da falta de segurança na região e desconfiando das promessas de uma melhor estrutura para o curso, o que dificultaria a aceitação da mudança por parte dos estudantes. A promessa do Plano Diretor é de um reforço na segurança do local por meio de projeto da prefeitura para a revitalização do bairro.
A outra reivindicação de Centro Acadêmico diz respeito ao espaço físico do CACOS, que seria perdido com a mudança.

TV UFPR, Museu e Imprensa

As outras instituições presentes nesse mesmo campus ficariam também com seu futuro indefinido. Segundo o bolsista sênior da Imprensa Universitária, Adalberto José da Silva, a Imprensa “já está para mudar para o centro politécnico há uns dez, quinze anos”. Talvez a desocupação do terreno do Juvevê seja a deixa para se concretizar a mudança.
O Museu de Etnologia e Arqueologia já passou por situação semelhante quando recebeu o prazo de um ano para desocupar completamente a antiga sede em Paranaguá, que também não era posse da Universidade. Após muito esforço e muitos gastos com o transporte de todo o acervo do Museu para Curitiba, a instituição terá de abandonar a atual sede quando a mudança for concretizada.
A TV Universitária, a Agência de Relações Públicas, a Fábrica de Comunicação e a redação do Jornal Comunicação passarão pelo mesmo problema.

Diálogo

Para a professora Maria Tarcisa, o DECOM não mais deveria discutir se deve ou não mudar de campus, mas sim apresentar as exigências estruturais do curso para a análise do Plano Diretor. Para ela, a situação se complicaria ainda mais caso o curso permaneça nessa mesma área, pois outros cursos ocuparão o espaço vago no futuro campus e Comunicação Social poderia ficar sem rumo definido.
Mas o diálogo entre Departamento, Setor e Plano Diretor continua aberto e a mudança só ocorrerá quando houver um consenso entre as partes.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Um passo para trás por quê?

Na longínqua Revolução Russa, lá no começo do século passado, Lenin falou em dar um passo para trás para poder dar outros dois para frente. Naquele contexto, o passo para trás era a produção voltada para exportação que geraria lucros à Rússia e esse lucro seria futuramente aplicado na área social, possibilitando os dois passos para frente.

Isso aconteceu há 91 anos atrás, quase do outro lado do mundo.

Agora, estamos diante de um impasse aqui no Brasil.
Recentemente, foram descobertas novas reservas de petróleo na bacia de Santos. Segundo previsões menos otimistas, o Brasil se tornaria um dos dez maiores produtores de petróleo do Mundo. Já os otimistas afirmam que seríamos O maior produtor petrolífero do planeta. Estatísticas à parte, estamos prestes a vivenciar uma injeção de dinheiro nunca antes vista nesse país.
O impasse se encontra justamente na melhor maneira de explorar esse petróleo. De acordo com a lei vigente, o governo colocaria em leilão o direito de explorar essa área, e uma empresa privada receberia essa concessão. O medo dos nossos governantes é de que esse dinheiro "escape" para o exterior, como sempre aconteceu na nossa história, desde as riquezas geradas pelo famoso Pau-Brasil. A idéia seria cobrar os royalties em forma de petróleo. E, para isso, seria criada uma nova estatal para gerenciar esse recebimento.

Com a nossa economia crescendo e nosso país se desenvolvendo como nunca ocorreu em toda a nossa história, criar uma estatal seria, sem sombra de dúvida, dar um passo para trás. O problema é que não consigo enxergar quando os dois passos para frente seriam dados.
Criar uma estatal exigiria uma mudança na Constituição, que só pode ser feita partindo do poder executivo. Depois, dependeríamos da aprovação do Senado e da Câmara (e todas as tramóias de nossos gloriosos políticos, às quais já estamos acostumados). Após aprovada a criação da estatal, esperaríamos a abertura de concursos públicos para a contratação de funcionários e cada aquisição feita por essa futura empresa, exigiria uma licitação e muito mais burocracia. E depois que tudo estiver pronto, estaríamos à mercê de toda a politicagem presente nas estatais, que mudam de diretriz a cada mudança no poder.

A outra proposta, é a de aumentar os royalties que seriam pagos pela empresa exploradora. Isso não assustaria nenhuma empresa candidata à exploração, porque o petróleo é lucro certo em qualquer lugar do mundo. E esse aumento pode ser feito por meio de um decreto, baixado da noite para o dia pelo poder executivo.

Meus caros, estamos vivenciando mais um momento chave para a nossa história. Nos próximos meses (ou anos) saberemos, finalmente, se vamos despontar como um país de primeiro mundo, uma nova potência econômica mundial, ou se vamos continuar com nosso complexo de vira-lata, roendo o osso deixado pelos nossos exploradores.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Objetivo: transparência

Corrupção, falta de comprometimento, falta de transparência. Mesmo fazendo todas as ressalvas possíveis para evitar a generalização, não é necessário fazer muito esforço mental para deduzirmos de que classe estamos falando. Há muito tempo que uma grande parcela da sociedade brasileira simplesmente se acostumou com esse tipo de comportamento por parte dos políticos. Mas algumas iniciativas pretendem modificar essa realidade.
As Organizações Não-Governamentais que lutam pela moralização do serviço público têm feito um trabalho de denúncia e fiscalização muito eficiente. Um grande exemplo é a ONG Transparência Brasil, fundada em abril do ano 2000 por algumas personalidades da intelectualidade do país, como Aristides Junqueira Alvarenga, ex-procurador Geral da República, Guilherme Amorim Campos da Silva, presidente da Comissão Brasileira Justiça e Paz, e o jornalista Juca Kfouri.
Nos últimos dias, tem havido uma grande repercussão relativa ao trabalho realizado pela ONG de exibir uma relação com a variação patrimonial de parlamentares que concorrem nas eleições de 2008. Nessa relação, os eleitores têm acesso a informações como o patrimônio declarado de cada candidato em 2006 e em 2008, as doações de pessoas físicas e jurídicas para as campanhas dos candidatos, o histórico de processos contra o candidato e a relação de todos os gastos do parlamentar na sua campanha.
Quem quiser se associar à Transparência Brasil deve preencher um formulário e enviar o pedido que será analisado pelo Conselho Deliberativo da entidade. Se aprovada a associação, o novo membro deve pagar uma taxa anual de R$324,00. Todo esse processo serve para evitar que pessoas com interesses em favorecer candidatos ou políticos eleitos se associem.
Outra atitude nessa mesma linha tem sido tomada por parte do governo federal. No ano de 2004 foi criado um portal na Internet que disponibiliza, para quem quiser, os gastos públicos realizados por parte do governo. Nesse site, os gastos são detalhados, inclusive no que diz respeito ao serviço prestado por uma pessoa física a algum órgão público e quanto essa pessoa recebeu por isso.
Apenas há que se lamentar que o portal não tenha a divulgação necessária para um serviço de tamanha importância. Para os interessados, o endereço eletrônico do portal criado pelo governo é www.portaltranspaencia.gov.br.

sábado, 31 de maio de 2008

O Mal e a Vida Nua

As últimas leituras solicitadas para as aulas de História Contemporânea III nos renderam algumas interpretações extremamente pertinentes ao contexto acadêmico. Relacionarei algumas delas, aqui no blog.


Ao ler o texto "Medo líquido", de Zygmunt Bauman, chegamos à conclusão de que o medo manifesta-se no estado líquido em situações diversas do cotidiano de uma pessoa. É possível analisar essas situações apenas partindo da constatação da existência do líquido, seja o suor, as lágrimas ou a própria urina. "Estou suando frio!" ou "Me mijei de medo!" são frases comumente pronunciadas nessas situações. Devemos levar em consideração a possibilidade de existir, também, o "medo sólido", proveniente do estado de relaxamento do intestino e da musculatura anal proporcionados pelo medo.
No mesmo texto, Bauman também fala da existência do "Mal", que vive nos encanamentos do Castelo Rá-Tim-Bum. Sempre acompanhado de seu fiel escudeiro Godofredo, Mal despertava a sensação de "medo quase líquido" nos visitantes do Castelo. A sua poderosa gargalhada fatal era infalível nessa função.
Já nos textos de Peter Pál Pélbart e Giorgio Agamben, temos explicitados os conceitos de vida nua segundo esses autores. Podemos concluir que a vida nua manifesta-se, principalmente, nas praias de nudismo. Apesar de o estado de "vida nua", na verdade, devesse apenas ser chamado de "dia nu" ou "tarde nua", já que nenhum ser humano passa sua vida inteira nesses locais.
Olhando por outro prisma, todavia, encontramos muito bem representado o conceito de vida nua nos animais. Se analisarmos, por exemplo, os serelepes macacos do Passeio Público e suas atitudes - como estar sempre com suas partes íntimas à mostra e cultivar a irritante mania de lançar seus dejetos fecais nos observadores - chegaremos à conclusão de que a vida nua pode ser uma alternativa ambientalista, mas nada produtiva para a economia turística de uma cidade como Curitiba.
Já os animais que vivem nos pólos, nas grandes geleiras, não são adeptos da vida nua, pois estão sempre vestidos com casacos de pele.

Mal podemos esperar para analisar os próximos textos. E que venha o Blackburn, com a história do Campeonato Inglês!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Uma palavra dos nossos patrocinadores

Queremos aproveitar esta oportunidade para afirmar que todos os textos publicados nesse blog pelo Sr. Eduardo Fernandes, (tirando, naturalmente, algumas notícias fabricadas, alguns comentários indevidos ou injustos, algumas insinuações malévolas e totalmente destituídas de propósito, certas afirmações tolas ditadas pela ignorância, determinados comentários feitos com o visível sentido de desorientar, um ou outro gracejo infeliz, muitas invencionices sem nexo, inúmeras conclusões apressadas, ocasionais apelos a semiverdades, constantes exageros, disparates e falsificações, muitos erros e equívocos totalmente inadmissíveis, absurdos sem conta, afirmações em benefício próprio feitas em nome do bem público, rotineira repetição de boatos sem a menor consistência, apelo também rotineiro a citações maliciosamente truncadas, muitas suposições feitas com absoluta má fé, dezenas de comparações caricaturais com objetivos nitidamente difamatórios, centenas de conclusões sem qualquer relação com as premissas expostas, milhares de dados estatísticos forjados e constantes cópias discaradas de outros autores sem a citação da fonte) são absolutamente verdadeiros e dignos de nossa total confiança.